quarta-feira, 11 de maio de 2011

Que o voto seja claro e não “conveniente”

[EDITORIAL DO JORNAL PÚBLICO, 09.05.2011(segunda-feira)]

Sucede em todas as eleições e as de 5 de Junho não vão ser excepção. Os partidos do chamado “centrão”, os que disputam entre si a alternância do poder, tentarão usar o discurso do “voto útil” para acentuar ainda mais tal polarização. Miguel Relvas, na apresentação do programa do PSD, já disse ontem que a escolha é entre os dois: “O resto é desperdiçar votos.” Ou seja, votar no CDS é tornar “inúteis” os votos que tanta falta fazem ao PSD. Por sua vez, o PS há-de fazer o mesmo, tentando atrair o máximo de votos, sobretudo à sua esquerda, para o que terá de tentar assustar convenientemente eleitores do PCP e do BE com os perigos do “avanço da direita”. Este saque esforçado de votos alheios deve, porém, ser contrariado pelos próprios eleitores. Se Portugal se resumisse a dois partidos, seria politicamente mais pobre e, se este é um momento de clarificação e de separar das águas, tal não se fará fingindo subscrever programas alheios mas sim escolhendo com critério as vias políticas que cada cidadão em consciência ache mais adequadas. O voto “útil” é, por natureza, um voto falso. Vota-se não em quem se quer mas em quem, a dado momento, melhor convém. Uma armadilha que urge evitar, até porque foram certas “conveniências” que deixaram Portugal neste triste estado. Que o voto seja claro e não “conveniente”.

domingo, 1 de maio de 2011

Manifesto para um mundo melhor

  OUTRO MANIFESTO QUE ASSINO DE OLHOS FECHADOS MAS CONSCIÊNCIA BEM ABERTA E ALERTA.



[Jornal Público de 01.05.2011]

A democracia tem que conter a crítica de si própria, de modo a que se reinventem as regras que nos governam
Como cientistas sociais que partilham valores de democraticidade e de justiça social, temos estado atentos a esta crise económica internacional multifacetada e com consequências profundamente negativas no que diz respeito ao progresso da Humanidade.

Vive-se, na Europa e nos Estados Unidos da América, um tempo de crise económica e social profunda, onde o impacto dos mercados financeiros internacionais e da especulação nas economias nacionais se apresenta como fortemente comprometedor não apenas da retoma económica, mas também não só da
estabilidade democrática, como do aprofundamento da democracia e, consequentemente, do bem-estar social.

Às elevadas taxas de desemprego, à precariedade e volatilidade do mercado de trabalho, resultado de políticas neoliberais protectoras e favorecedoras dos interesses do grande capital, os políticos têm vindo a responder com medidas de combate à crise profundamente fragilizadoras das classes de menor estatuto social e económico, mas sem impacto na resolução dessa mesma crise, servindo apenas para "acalmar" o apetite dos mercados financeiros internacionais através do pagamento de elevados e injustificados juros cobrados às frágeis economias nacionais. Estas medidas são apresentadas às opiniões públicas como as únicas verdadeiramente eficazes para minorar os efeitos da voracidade dos mercados financeiros internacionais desregulados, omitindo o papel daqueles na emergência e aprofundamento da crise. Esta é declarada e assumida pelos governantes e por muitos economistas como se de uma fatalidade se tratasse. Ao mesmo tempo, propaga-se a ideia (ideologia) da inviabilidade de alternativas, a par da fragilização, no caso europeu, do seu modelo social assente na redistribuição económica, alegando a sua insustentabilidade a médio e longo prazo e a sua subalternização à Europa da concorrência.


Acentua-se a responsabilidade individual e a desresponsabilização do Estado face aos grupos sociais mais vulneráveis, reduzindo as oportunidades para se realizarem enquanto cidadãos, beneficiando os mais poderosos em prejuízo dos mais desfavorecidos.


O ataque ideológico ao modelo social europeu é um ataque ao mundo, dado que aquele é o modelo-padrão a partir do qual se constroem as aspirações dos cidadãos das nações emergentes e as novas formas de organização social que urge construir nesses países para redistribuir a crescente riqueza de que poucos usufruem.


As suas consequências são o paulatino desmantelamento das protecções sociais que (ainda) limitam os danos da pobreza e da exclusão social, pondo em causa o contrato social que fundamenta a democracia. Às grandes desigualdades de distribuição de rendimento existentes nos países emergentes, perpetuadoras de inúmeras vidas imersas na mais profunda pobreza, juntam-se as novas situações, nos países mais ricos, onde o nível de riqueza cresce ao mesmo tempo que o número de pobres.


É em períodos de crise que se constroem alternativas de futuro. Todos os que se sentem interpelados, descontentes e explorados não podem ser mobilizados pelo "medo" para soluções autoritárias. E corre-se esse perigo. Por isso, é este o momento certo para que os cientistas sociais, que se ocupam a analisar, a procurar compreender e a sistematizar conhecimento sobre as sociedades, as suas dinâmicas, as suas forças e também os seus efeitos perversos, se empenhem na construção do aprofundamento da democracia. Em conjunto com todos aqueles que estão dispostos a trabalhar por um mundo melhor. Com todos aqueles que sabem que a democracia se inventa e se reconstrói. Outros paradigmas são possíveis, mas exigem o compromisso de todos nós, para que se diminua a distância entre governantes e governados, denunciada há tantos anos por Bourdieu; para que seja possível, à semelhança do preconizado por Edgar Morin, resistirmos a uma ideologia dominante que tudo varre à sua frente e que apresenta como evidente e normal o que mais não é do que a exploração e a desigualdade, que recusamos; para que seja possível compreender, à semelhança de Cynthia Fleury, que a democracia tem que conter a crítica de si própria, de modo a que se reinventem as regras que nos governam, impedindo a "entropia" das democracias.


Torna-se, por isso, fundamental a
intervenção no espaço público, nomeadamente através da construção de um manifesto capaz de interrogar o capitalismo desenfreado em que vivemos (e particularmente a submissão às exigências dos mercados financeiros internacionais) que sacrifica parte significativa dos seres humanos em nome do lucro exacerbado de alguns, encaminhando-os para a perda gradual dos direitos e da dignidade humanos. Trata-se de um manifesto capaz de questionar o tipo de sociedade que está a construir-se com este modelo económico e apontar para a construção de uma sociedade em que o modelo económico não faça refém a maior parte da humanidade, destruindo-lhe nomeadamente a capacidade de indignação através do aumento da insegurança e precariedade associadas ao mercado de trabalho. O papel dos e das cientistas sociais é também desconstruir as "evidências do mercado", bem como outras ideologias tão eficazes, nomeadamente no que diz respeito à veiculação de que não existe alternativa para a actual ordem económica e social mundial.

Afirmamos, pelo contrário, que uma nova ordem económica mundial é possível: uma ordem que restitua aos seres humanos o direito à indignação, o direito ao trabalho, o direito a expectativas positivas e oportunidades de vida, o direito à dignidade.


Propomos, por isso, a
adopção mundial de medidas tendentes a diminuir o impacto social da actual crise mundial que, se consideradas pelas elites governantes mundiais, contribuirão para o incremento das economias nacionais, para restituir ao ser humano a confiança no futuro e para o aprofundamento do sistema democrático.

Uma democracia saudável é uma democracia mais deliberativa e comunicativa, em que as políticas de "redistribuição", de "reconhecimento" e de "participação" se articulam em prol de uma justiça mais respeitadora dos direitos humanos, mais cooperativa, sem áreas marginais, tendo em vista transformar este nosso mundo numa comunidade de comunidades.


A sobreexposição da opinião pública aos economistas do regime e sua cartilha de pensamento único desvitaliza e despolitiza o espaço público, difundindo a ideia que Margaret Thatcher apregoou quando subiu ao poder e que constitui o
nó górdio de todo um programa: "não há alternativa". Nos dias que correm, esta questão surge com particular intensidade no respeitante à dívida soberana. A prenoção da intocabilidade da dívida afoga todas as tentativas de a discutir enquanto instrumento privilegiado de transferência dos rendimentos do salário para o capital. Na verdade, o reescalonamento e a reestruturação da dívida deveriam permitir aos países não pagarem juros extorsionários. De igual modo, afigura-se fundamental impor uma justa redistribuição dos sacrifícios, obrigando a banca (uma das principais causadoras e beneficiárias da actual crise) a pagar imposto de acordo com os lucros obtidos, a par da taxação das grandes fortunas, das mais-valias bolsistas e urbanísticas, das transferências para offshores. Finalmente, julgamos essencial que qualquer política macroeconómica calcule, de antemão, o número de pobres que vai produzir, para que se perceba e evite os danos sociais e morais da sua implementação.

A construção de um movimento social internacional


Apela-se a todos os cidadãos e cidadãs do mundo para aderirem a este manifesto, em ordem a construir um movimento social mundial capaz de enfrentar o actual capitalismo desenfreado que se quer fazer "senhor do mundo" e reféns as pessoas que o habitam. PELA REGULAÇÃO DEMOCRÁTICA E SOLIDÁRIA DO CAPITALISMO. PELA HUMANIDADE COM DIGNIDADE.


Almerindo Afonso
(sociólogo da educação, Instituto de Educação, Universidade do Minho), Ana Benavente (socióloga da educação, ICS-ULHT, Lisboa), Ana Diogo (socióloga, Universidade dos Açores), Afrânio Mendes Catâni (sociólogo, Universidade de São Paulo, Brasil), Álvaro Borralho (sociólogo, Universidade dos Açores), Alexandra Castro (socióloga, CET/ISCTE), Alberto Melo (Associação In Loco e Universidade do Algarve), António Teodoro (professor, investigador em educação, Universidade Lusófona), Andrea Spini (sociólogo, Universidade de Florença, Itália), Bernard Lahire (sociólogo, École Normale Supérieure Lettres et Sciences Humaines, Universidade de Lyon 2, França), Boaventura de Sousa Santos (sociólogo, director do CES, Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra), Carlo Catarsi (sociólogo, Universidade de Florença, Itália), Carlos Estêvão (sociólogo da educação, Instituto de Educação, Universidade do Minho), Casimiro Balsa (sociólogo, Universidade Nova de Lisboa), Claire Auzias (historiadora, França), Conceição Nogueira (psicóloga social, Escola de Psicologia, Universidade do Minho), David Smith (sociólogo, Canterbury University, Kent, United Kingdom), Fátima Pereira Alves (socióloga, Universidade Aberta), Fernando Diogo (sociólogo, Universidade dos Açores), Filipe Carmo (historiador), Gilberta Rocha (socióloga, Universidade dos Açores), Giovanna Campani (antropóloga, Universidade de Florença, Itália), Isabel Guerra (socióloga, Dinamia/CET, IUL/ISCTE), João Teixeira Lopes (sociólogo, Faculdade de Letras, Universidade do Porto), Luísa Ferreira da Silva (socióloga, ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa), Manuel Carlos Silva (sociólogo, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho), Margaret Gibson (Professor Emérita of Education and Anthropology, University of California, Santa Cruz, USA), Maria Alice Nogueira (socióloga, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil) Maria José Casa-Nova (socióloga da educação, Instituto de Educação, Universidade do Minho), Maria Helena Cabeçadas (antropóloga), Manuel Matos (professor aposentado da FPCE, Universidade do Porto), Manuel Sarmento (sociólogo, Instituto de Educação, Universidade do Minho), Maurizio Matteuzzi (filósofo, Universidade de Bologna, Itália), Michael Young (sociólogo da educação, Institute of Education, Londres) Michel Messu (sociólogo, Universidade de Nantes, França), Nancy Fraser (Henry A. & Louise Loeb, professor of Philosophy and Politics, New School for Social Research, Nova Iorque, EUA), Nathalie Burnay (socióloga, Universidade de Namur, Bélgica), Paulo Pereira de Almeida (sociólogo, ISCTE, Lisboa), Pedro Silva (sociólogo da educação, Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, Instituto Politécnico de Leiria), Roger Dale (sociólogo, Universidade de Bristol, Inglaterra), Rui Brito Fonseca (sociólogo, CIES/ISCTE-IUL, Universidade de Lisboa), Rui Canário (sociólogo da educação, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa), Rui Santiago (professor da Universidade de Aveiro), Saniye Dedeoglu (Centre For Research in Ethnic Relations, School of Health and Social Studies, University of Warwick, Inglaterra), Sílvia Carrasco Pons (antropóloga, Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha), Sofia Marques da Silva (socióloga da educação, FPCE, Universidade do Porto), Tiziana Chiappelli (educadora, Universidade de Florença, Itália), Tiago Neves (sociólogo, FPCE, Universidade do Porto), Vítor Matias Ferreira (sociólogo, prof. emérito do ISCTE), Xavier Bonal (Sociólogo, Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha), Xavier Rambla (professor de Sociologia, Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha).

quarta-feira, 27 de abril de 2011

UMA VERDADE INCONVENIENTE

[Jornal Público de 26.04.2011]

NOTA MINHA:
À muito que venho "passando a palavra" que existe uma guerra surda entre o dólar e o euro.
À muito que luto contra os neoliberais.
(leiam, por favor, a crónica que se segue, e depois reflitam...)


segunda-feira, 25 de abril de 2011

O PCP NUNCA TENTOU FAZER UM GOLPE ...

[Jornal Público de 25.04.2011]

NOTA MINHA: " AFINAL NÃO COMIAM MENINOS AO PEQUENO ALMOÇO"?


A GRANDE REGRESSÃO e APESAR DE TUDO, ABRIL É PRIMAVERA

[Jornal Público de 25.04.2011]

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O QUE TEMEM OS POLÍTICOS....?

[notíca do Jornal Público de 20.04.2011]

Assembleia "chumbou" referendo à construção no Palácio de Cristal

Por Jorge Marmelo PSD, CDS e PS uniram-se para inviabilizar iniciativa popular contra a criação de um centro de congressos no histórico jardim portuense

A Lei Orgânica do Referendo Local existe desde 2000, mas ainda não é desta que a segunda cidade do país vai poder decidir nas urnas o destino de um projecto. A Assembleia Municipal do Porto "chumbou" anteontem à noite, com os votos do PSD, do CDS e do PS, a iniciativa popular para a realização de um referendo sobre a construção de um centro de congressos nos jardins do Palácio de Cristal.

Durante o debate, todos os partidos saudaram a iniciativa popular e o instituto do referendo, mas só sete dos 54 deputados deram "luz verde" ao processo. "Parece que toda a gente valoriza muito a intervenção das pessoas, mas todos acham que ela deve morrer aqui", resumiu o comunista Artur Ribeiro. "Deixem que o povo decida", apelou.

A votação final, porém, apenas confirmou a posição previamente anunciada pelos partidos. Ao longo das quase três horas de discussão, ficaram, isso sim, a conhecer-se os argumentos de cada força política, tendo o socialista Jorge Martins, relator da comissão que acompanhou o assunto, explicado, desde logo, que a realização do referendo constituiria uma ilegalidade. Na base desta consideração está a existência de um contrato-programa já assinado pela autarquia em 2007, o qual acarreta compromissos com terceiros e, de acordo com a lei, transforma o projecto para o Pavilhão Rosa Mota em matéria excluída da possibilidade de referendo local.

Este argumento foi rebatido pelos eleitos da CDU e do BE, os quais consideraram que não competia à assembleia pronunciar-se sobre a legalidade, que é da competência do Tribunal Constitucional, obrigado por lei à fiscalização preventiva do referendo. O Bloco apresentou, de resto, uma proposta de deliberação no sentido de permitir que o processo avançasse, a qual, porém, foi "chumbada" com os votos do PS, PSD e CDS.

Ao argumento legal, aqueles três partidos juntaram ainda outros motivos para o "chumbo" do referendo. Argumentaram, por exemplo, que a iniciativa surge fora de tempo, uma vez que o consórcio que conquistou a concessão do centro de congressos já fez investimentos e que o projecto já tem a garantia de fundos comunitários para a sua concretização. Invocado foi ainda o facto de o projecto já ter sido objecto de ratificação democrática aquando das últimas eleições autárquicas, uma vez que constava do programa eleitoral da maioria PSD-CDS.

Os deputados da coligação consideraram também que a pergunta a formular ("Concorda com a construção de edifícios nos Jardins do Palácios de Cristal para um centro de congressos?") induz uma resposta. "Quem lê, pensa que os jardins vão ser destruídos em favor do betão", considerou Paulo Rios (PSD), tendo André Noronha, do CDS, afirmado que o triunfo do "não" num eventual referendo "inviabilizaria, no futuro, qualquer ideia que utilizasse um tijolo ou uma porta".

A única proposta que previa o "chumbo" do referendo acabou, de resto, por ser formulada por este deputado, após uma discussão sobre se a iniciativa popular do referendo devia ou não ser objecto de uma votação específica.

Grande parte da discussão voltou ainda a centrar-se na necessidade de construir um centro de congressos que vai utilizar parte daquele histórico jardim portuense, mas, conforme recordaram Artur Ribeiro (CDU) e José Castro (BE), essa matéria não estava, sequer, a ser objecto de análise, uma vez que o projecto já tinha sido aprovado pela assembleia.

(fim de notícia)
NOTA MINHA:
Porque todos se unem contra o referendo? Será que consideram que o "POVO" não tem arcaboiço, ou será que não querem que o "POVO" decida em sentido contrário, ou será que estão entalados, mergulhados ou outros quaisquer "...lhados" até ao tutano?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

É PRECISO VIR GENTE DE FORA ....

[ in Jornal Público de 17.04.2011]


Convergência Nacional em torno do Emprego e da Coesão Social

ESTA EU SUBSCREVO DE OLHOS FECHADOS

[in Jornal Público de 16.04.2011]

sábado, 9 de abril de 2011

E SE ELE TEM RAZÃO...

Jornal Público de 08.04.2011 (sexta-feira), in "Espaçopúblico", pág. 38


domingo, 27 de março de 2011

INDIGNAI-VOS

Título de livro de Stéphane Hessel, recente publicado em Portugal pela Editora Objectiva e exclusivo Fnac.
Eis um pouco do Prefácio da autoria de Mário Soares:
"(...) A crise, apesar dos desastres que tem causado, paralisando o funcionamento da União (europeia), pode ter vantagem de acordar a Europa do Euro para a necessidade absoluta de mudar de paradigma, fazendo avançar a Europa para uma estratégia conjunta que defenda o euro, com dimensão política, económica, financeira, fiscal, social e cultural. Ou avança nesse sentido ou entra em irremediável decadência, perdendo o lugar que ainda tem na cena internacional. O Relatório apresentado pelos sábios, presidido por Filipe Gonzalez, assim o escreve de forma meridiana.
A dificuldade resulta da larga maioria dos Governos terem hoje à sua frente políticos ultra-conservadores e pouco europeístas, no sentido que a palavra tinha para os Pais Fundadores da Comunidade Europeia: um projecto político de paz, de bem-estar para as populações, de justiça social e de democracia participada, com dimensão ambiental e uma preocupação ética dominante do serviço público, que obrigue todos os mecanismos do Estado, incluindo as parcerias público-privadas.
Por outro lado, há que reconhecer que os partidos Socialistas e Socila-Democratas, que sempre foram europeístas, deixaram-se "colonizar", nos infelizes anos de George W. Bush, pelo neo-liberalismo especulativo que, na boca de Tony Blair e dos seus apaniguados, se apelidou de "terceira via". Sempre me pareceu que essa "teoria" ajudaria a direita, em consequência, e levaria muitos Partidos Socialistas à decadência. Foi o que aconteceu.
(...)

domingo, 20 de março de 2011

O disparate em que insiste a classe política.

Porque será que não se analisa em pormenor todas as opções e se discute qual a melhor solução para o País?

[Jornal Público de 19.03.2011]

sexta-feira, 11 de março de 2011

GERAÇÃO À RASCA II ....

[Jornal Público de 11.03.2011]
Mais dois artigos de opinião a ler:

quinta-feira, 10 de março de 2011

"MENTALIDADE DEMOCRÁTICA..."

“”
(…)
Controlos e ajustes

Seres falíveis como nós têm de aceitar sempre a possibilidade de estarem errados. Mas não têm, nem devem, aceitar que estão sempre errados. Em muitos casos, acertamos na verdade, e muitas vezes por sorte; noutros casos, não acertamos. A verdade ou falsidade das nossas convicções não depende de nós, mas antes da realidade que é objecto das nossas convicções. O que depende de nós é a justificação cuidadosa das nossas convicções. E é bastante menos provável que sejam verdadeiras por pura sorte convicções que não procurámos justificar cuidadosamente do que as que são continuamente objecto desse cuidado.
Podemos pôr todas as nossas convicções à prova, mas não ao mesmo tempo – pois não é possível pôr convicções à prova sem partir de outras convicções. Além disso, não pode também cada um de nós pôr todas as suas convicções à prova, mesmo que não ao mesmo tempo: alguns põem em causa convicções filosóficas, outros científicas, outros ainda históricas e outros políticas. É uma vez mais o trabalho cognitivo distribuído por várias pessoas.
Somos falíveis. A nossa estrada em direcção à verdade é inevitavelmente feita de controlos e ajustes. Comparamos o que vemos com o que sentimos ou ouvimos, e se houver discrepância, introduzimos mais controlos e ajustes. Introduzimo-los também quando comparamos as nossas convicções com as convicções alheias e aí descobrimos discordâncias. E se as convicções de várias autoridades – cientistas, religiosos, filósofos – forem incompatíveis, introduzimos mais controlos e ajustes. O mesmo fazemos quando as nossas diversas preferências, e também as preferências alheias, são incompatíveis.
Em todos estes processos, os controlos e ajustes não são outra coisa senão raciocínio: precisamos de raciocinar, ou com base no estudo de autoridades, ou com base no que os outros nos dizem, ou com base nas preferências.
O raciocínio está no centro da estrutura epistémica de seres falíveis. No entanto, a tentação ao longo dos séculos tem sido fingir que podemos abandonar o raciocínio paciente envolvido nos controles e ajustes permanentes, substituindo-o por Deus, pela Autoridade ou pela Observação ou Experimentação. Mas não há fuga do raciocínio porque mesmo que Deus ou alguma autoridade nos fale, temos de raciocinar para concluir com base na observação ou na experimentação. E no raciocínio, como em tudo o resto, podemos cometer erros, porque somos falíveis.
(…)

Argumentação

Quando o raciocínio visa persuadir outra pessoa, chama-se argumento. E quando se argumenta podemos fazê-lo com probidade epistémica ou não. Com probidade epistémica, a argumentação é uma actividade conjunta de procura da verdade. Sem ela, é uma mera disputa verbal para ver quem ganha.
Porque somos seres falíveis, a liberdade de debate público é um instrumento crucial para a procura da verdade e a correcção dos erros. Mas pensar que de qualquer debate emerge automaticamente a verdade é outra vez a ilusão do automatismo. A discussão, pública ou privada, é um instrumento de procura da verdade exclusivamente quando as pessoas envolvidas estão de boa-fé. Quando as pessoas envolvidas se entregam à retórica da disputa verbal, para ver quem ganha, o instrumento original foi distorcido a ponto de se tornar não um meio adequado para descobrir verdades, mas um dos seu mais sérios obstáculos – porque dá às pessoas a ideia errada de que o debate e o raciocínio, a racionalidade e a argumentação não passam de jogos de forças. Quem faz do debate um mero jogos de forças, é natural que pense que é disso que se trata; o problema é outras pessoas pensarem que essa é a única maneira de encarar o debate.
Um argumento visa persuadir o nosso interlocutor a aceitar uma conclusão que ele originalmente não aceita. Se não partirmos de premissas que ele aceita, o argumento é inútil. Tal como seria inútil cada um de nós tentar descobrir conclusões partindo do que não aceitamos. Para aceitarmos uma conclusão com base em premissas, temos de começar por aceitar as premissas. É por esta razão que é ilusório pensar que podemos pôr tudo em causa com base em nada. Pôr algo em causa é avançar um argumento contra uma certa ideia, mas não se pode apresentar argumentos sem premissas: não podemos ter razões para pôr uma ideia em causa se não aceitarmos outras ideias com base nas quais pomos a primeira em causa.
Argumentar correctamente implica começar por procurar as ideias que partilhamos com o nosso interlocutor, ao passo que nas disputas retóricas se rejeita tudo o que o interlocutor afirma. Só partindo do que partilhamos com o nosso interlocutor podemos chegar a argumentos que ele possa aceitar. Argumentar correctamente é mostrar ao nosso interlocutor que ideias que ele aceita implicam ideias que ele quer rejeitar. E isso não é fácil de fazer.  (…)  E se não estiver disposto a fazer isso, não vale a pena fingir que está a tentar argumentar correctamente: está apenas a tentar o equivalente verbal da violência física.
Haverá sempre casos em que não conseguimos persuadir os nossos interlocutores. Em casos de discussão e análise de algumas ideias, não temos de decidir com base nelas, pelo que a inclusão não tem outra consequência que não o manter a discussão viva. Mas noutros casos temos de tomar decisões, fazer leis, agir. O que fazer então?
Quem não tem uma mentalidade democrática nem probidade epistémica, tenta manipular a discussão – ou impedir que esta chegue a ocorrer. Mas o que se deve fazer é acolher a discussão e aceitar tranquilamente a decisão da maioria. Talvez noutra oportunidade a maioria descubra que estava errada. Ou talvez nós descubramos que estávamos errados. Ou talvez nenhuma dessas coisas aconteça. Em qualquer caso, não temos outra maneira honesta de proceder senão conceder um período generoso de discussão honesta da matéria em causa, e depois deixar que cada um dos nossos interlocutores vote segundo a sua consciência. A discordância irresolvida é normal em seres epistemicamente falíveis: significa que pelo menos alguns de nós estamos a errar algures, e não conseguimos ver onde. Mas é apesar de tudo mais provável que seja certa a opinião da maioria, se esta em nenhum momento abdicou da probidade epistémica, apesar de poder não o ser.
Como sabemos então que sabemos seja o que for? Se estamos a perguntar como podemos garantir que sabemos quando cremos que sabemos, a resposta simples é nunca. Mas se raciocinarmos de maneira cuidadosa, podemos – cooperando cognitivamente com os nossos semelhantes – tomar medidas que diminuam o erro e aumentem o acerto. Teremos então boas justificações para tomar as nossas ideias como provavelmente verdadeiras – até alguém mostrar que são falsas. Contudo, o que é afinal a verdade?
(…)
“”
- in capítulo “8.Raciocínio”, págs. 83 a 88 do livro “Filosofia em Directo”, de “Desidério Murcho”, colecção “Ensaios da Fundação”, volume 8, Edição de “Fundação Francisco Manuel dos Santos”

quarta-feira, 9 de março de 2011

GERAÇÃO À RASCA ....

Eis aqui três opiniões:

Palavras - AUSTERIDADE

Revista "Pública" de 06.03.2011 (pág. 11)

""
austeridade
Quanto mais se pronuncia, mais antipática (e penosa) se torna esta palavra. "Carácter ou qualidade do que é austero, rigor de disciplina." São assim as primeiras explicações para "austeridade" que os dicionários registam. Segue-se "dureza no trato" ou "penitência"! Nada de exemplos para a expressão "medidas de austeridade" que muito se tem repetido ultimamente. Mas este substantivo feminino também pode significar "integridade", "seriedade". Mais pormenorizadas são as entradas para "austero", que falam em rigidez nos princípios, hábitos ou opiniões, em inflexibilidade e circunspecção. "Que exige esforço" (sabemos), que "é áspero" (também) e "duro" (idem). "Mortificação espontânea dos sentidos e do espírito" (não exageremos). Em vão se procurou um sentido mais amável para estas palavras. Descobriu-se antes o verbo "austerizar": tornas austero. E um estranho vocábulo de que muitos conhecerão os efeitos, mesmo se nunca com ele se cruzaram literalmente: "Austerismo." Significado: "Excesso de austeridade." Pois.
""

sexta-feira, 4 de março de 2011

PERGUNTAS AINDA E SEMPRE SEM RESPOSTA

Artigo de opinião em Jornal Público de 4 de Março de 2011, secção "Espaçopúblico".
Porque ficamos sempre com a sensação que falta qualquer coisa a saber ....?


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

T-shirts brancas com nódoas

Eis uma razão pela qual nunca se deve forma opinião ouvindo, ou lendo, uma única só parte sobre um determinado assunto ("issue" como dizem os ingleses).

(in revista NotíciasMagazine, Jornal de Notícias de 06.02.2011)

EU NÃO ME ABSTENHO ....

"...Para consolidar a democracia e fomentar desde cedo a participação, pais e professores têm de salientar a importância dos valores essenciais: o respeito pela vida e pela opinião dos outros, a verdade, a honestidade e o cuidado com as pessoas perto de nós.
É na defesa do sentimento do outro e na crença de que temos de escolher os melhores para nos representarem que reside, desde a infância e em democracia, o combate à abstenção."
 (Daniel Sampaio, em "porque sim", revista Pública de 6.02.2011)


DESCARAMENTO DESPUDORADO

(crónica no Jornal Público de 18.02.2011, "Espaçopúblico")



TEMOS MEMÓRIA CURTA, ... não temos?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

PARVA QUE SOU

PARVA QUE SOU
Por Deolinda

Sou da geração sem
remuneração.
E não me incomoda esta
condição.
Que parva que eu sou.

Porque isto está mal e vai
continuar.
Já é uma sorte eu poder
estagiar.
Que parva que eu sou.

E fico a pensar:
Que mundo tão parvo,
Onde para ser escravo
é preciso estudar.

Sou da geração "casinha dos
pais".
Se já tenho tudo, p'ra quê
querer mais?
Que parva que eu sou.

Filhos, maridos, estou
sempre a adiar,
E ainda me falta o carro
pagar.
Que parva que eu sou.

E fico a pensar:
Que mundo tão parvo,
Onde para ser escravo
É preciso estudar.

Sou da geração "vou queixar-me
para quê?"
Há alguém bem pior do que
eu na TV.

Sou da geração "eu já não
posso mais!",
E esta situação dura há
tempo de mais,
E parva eu não sou!

E fico a pensar:
Que mundo tão parvo,
Onde para ser escravo
É preciso estudar.
(fim)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

PLANETA DOS MACACOS

 ... e esta hem!!!.. (como diria o saudoso...)

Jornal Público de 01.02.2011
P2 * O bisturi * Jorge Marmelo

Um mito grego antigo narrava, séculos antes de Noé ter construído uma arca, como Zeus fez desabar sobre o mundo um dilúvio destinado a castigar os homens pelas sua inclinações ímpias. Da chuvada só se salvaram Deucalião, o mais justo dos homens, e Pirra, a mais virtuosa das mulheres - a bordo, pasme-se, de uma caixa de madeira que conseguiu alcançar o cume do monte Parnaso, o único sítio da Terra que escapou à inundação.
A história, porém, não serve apenas para demonstrar a falta de criatividade das religiões posteriores, uma vez que fornece também uma explicação razoável para o carácter bruto dos homens do porvir. Finda a tempestade, Deucalião e Pirra foram, sozinhos no mundo, caminhando e lançando pedras para trás das costas. Das pedras que ele lançava sobre a terra húmida nasciam varões, e fêmeas dos calhaus que atirava ela. De acordo com esta interpretação do mito, somos todos calhaus com olhos - e pouco mais.
Simpatizo com a mitologia grega, mas tendo a emocionar-me mais com a histórias como a da coelha grávida que, a caminho do Porto Santo, em 1419, pariu e, como uma Eva felpuda e de orelhas cumpridas, deu origem a todos os coelhos que existem na ilha. O P2 contava-o ontem, mas eu tinha ouvido a fantástica narração na semana passada, pela viva voz do biólogo Nuno Ferrand de Almeida. e arrepiei-me com essa demonstração prática da evolução das espécies, como se estivesse diante de uma revelação. Infelizmente, sendo também pouco mais do que um calhau com olhos, ainda estou a tentar perceber aquilo que me foi revelado.
Embora filho de Deucalião, prefiro, pois, a versão segundo a qual o Homem e os outros animais resultam da evolução natural das espécies, tal como Charles Darwin a desvendou; que somos todos netos de um macaco que se pôs em pé, aprendeu a atravessar o polegar diante da palma da mão e entendeu, depois, que a cabeça podia servir para alguma coisa além da criação recreativa de piolhos. Encantou-me, por isso, a história de Ambam, uma gorila de dorso prateado do zoológico de Kent, em Inglaterra que caminha em pé ("como um homem"). Vêem-se as imagens disponíveis na Internet e parece mesmo que só lhe falta uma cartola no alto do cocuruto e um charuto na mão para poder ser confundido com um Homo sapiens (ou com um barão da indústria).
Parece que o pai de Ambam também é capaz de andar em pé, o que talvez signifique, no grande concerto da evolução das espécies, que estes gorilas se encontram num momento em que podem começar a parecer-se com os humanos comuns. Calhando, a ficção cinematográfica de o Planeta do Macacos não está muito longe de se concretizar e os nossos tetranetos poderão conviver, um dia, com símios inteligentes. Podemos, assim, esperar que esses futuros seres cheguem a ser tão bonitos e sensíveis como Ari protagonizada por Helen Bonham Carter, e tão pacíficos e fleumáticos como Ambam, o gorila de Kent.
Com sorte, os crioulos que resultem dos cruzamentos deles com os humanos ainda nos podem salvar das macacadas deste mundo.
(fim)
NOTA: Vejam o Ambam, neste link:
             http://www.youtube.com/watch?v=YXHQNKABKs8
             (mas no YouTube há mais...)

VENDE, MAS NÃO É SÉRIO

..para bom entendedor, meia palavra basta. ...

Jornal DESTAK de 27.01.2011
Editorial * Isabel Stilwell

Sinceramente, fiquei enjoada com o vídeo da entrevista  do Carlos Silvino. Não consegui sequer vê-la até ao fim: os tiques, os gestos perturbados, a teoria da conspiração do copo de água drogado, da medicação que leva a mentir, com um efeito tão poderoso que perdura três anos e obriga a vítima a assumir-se como gay e pedófilo, e até, imagine-se, a pedir desculpas em tribunal, tudo é confrangedor.
Como é confrangedor perceber que há quem use e abuse sem escrúpulos, do depoimento de alguém que é visivelmente perturbado, que a opinião pública e o tribunal "julgaram"  com alguma condescendência exactamente por isso. E que ninguém pareça perceber o que se passa, quando o entrevistador tem uma agenda pública e assumida de lutar pela inocência de Carlos Cruz, e não propriamente de investigar a verdade, essa sim, a missão de uma jornalista e o propósito de uma entrevista jornalística.
É claro que vende, é claro que é uma enorme tentação publicar e divulgar esta suposta pedrada no charco, que aparentemente põe em causa todo um julgamento. Mas não quer dizer que seja sério. Nem para ser levada a sério.
Acredito que toda a gente tem direito a lutar pela sua inocência, pelos meios legais, mas custa-me compreender que pessoas condenadas por um tribunal continuem a agir como se não o tivessem sido, e, com o "pretexto" dos recursos, continuem a dar grandes entrevistas e a dizer o que lhes vem à cabeça, podendo obviamente ser facilmente manipuladas. Condenado a dezoito anos de prisão, o que tem Carlos Silvino a perder com estes números de circo? Mas há quem tenha muito a ganhar de cada vez que a confusão se instala. e nem sequer custa a perceber quem são.
(fim)
NOTA: O bold é meu.