quarta-feira, 11 de maio de 2011

Que o voto seja claro e não “conveniente”

[EDITORIAL DO JORNAL PÚBLICO, 09.05.2011(segunda-feira)]

Sucede em todas as eleições e as de 5 de Junho não vão ser excepção. Os partidos do chamado “centrão”, os que disputam entre si a alternância do poder, tentarão usar o discurso do “voto útil” para acentuar ainda mais tal polarização. Miguel Relvas, na apresentação do programa do PSD, já disse ontem que a escolha é entre os dois: “O resto é desperdiçar votos.” Ou seja, votar no CDS é tornar “inúteis” os votos que tanta falta fazem ao PSD. Por sua vez, o PS há-de fazer o mesmo, tentando atrair o máximo de votos, sobretudo à sua esquerda, para o que terá de tentar assustar convenientemente eleitores do PCP e do BE com os perigos do “avanço da direita”. Este saque esforçado de votos alheios deve, porém, ser contrariado pelos próprios eleitores. Se Portugal se resumisse a dois partidos, seria politicamente mais pobre e, se este é um momento de clarificação e de separar das águas, tal não se fará fingindo subscrever programas alheios mas sim escolhendo com critério as vias políticas que cada cidadão em consciência ache mais adequadas. O voto “útil” é, por natureza, um voto falso. Vota-se não em quem se quer mas em quem, a dado momento, melhor convém. Uma armadilha que urge evitar, até porque foram certas “conveniências” que deixaram Portugal neste triste estado. Que o voto seja claro e não “conveniente”.

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