quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

COM A BIBLIOTECA DE PESSOA À MÃO


Jornal Público
Sexta-feira, 22.10.2010 - Ípsilon
Isabel Coutinho (isabel.coutinho@publico.pt)

Ciberescritas

Com a biblioteca de Pessoa à mão

Numa lista de tarefas a realizar  que Fernando Pessoa deve ter escrito em 1913 lê-se: "fazer catálogo da biblioteca (minha)". E foi isto que os investigadores Jerónimo Pizarro, Patrício Ferrari e antónio Cardiello fizeram.
Catalogaram a biblioteca particular de Pessoa, que terá sido construída entre o final de 1898 e o Outono de 1935, é constituída por 1142 volumes, de todos os géneros e vários idiomas, densamente anotados e manuscritos. Mais tarde foi digitalizada e desde quinta-feira está disponível online - livro a livro, página a página - no "site" da Casa Fernando Pessoa. "Entendemos que uma biblioteca desta importância devia tornar-se património da humanidade - e não apenas dos que podem deslocar-se a esta Casa onde Fernando Pessoa viveu os últimos quinze anos da sua vida", explica a directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, quando s entra no "site" que pode ser acedido em português ou inglês.
E não poderia ser de outra maneira para um projecto que quer ser universal. Ainda para mais quando a maior parte dos livros que estão na biblioteca Fernando Pessoa está escrita em língua inglesa. "Parece antes a biblioteca de um autor inglês que tivesse necessidade de recorrer a traduções francesas e algum interesse especial pela literatura portuguesa. Pessoa comprava livros na Livraria Inglesa de Lisboa e encomendava livros de Inglaterra com alguma assiduidade. Muitos dos títulos portugueses que constam da sua biblioteca foram-lhe oferecidos, como revelam diversas dedicatórias" explicam os estudiosos na introdução do primeiro volume de "A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa" (ed. D. Quixote) dedicado a este acervo.
"Senão soubéssemos quem foi o proprietário, dificilmente avinharíamos que foi um escritor português; até porque uma grande parte das notas manuscritas estão em inglês, algumas referências remetem para a África do Sul e vários livros estão assinados por Alexandre Search ou outros nomes ingleses".
Numa nota prévia que se pode ler online, Jerónimo Pizarro lembra que no poema "Un lector" Jorge Luís Borges escreveu: "Que otros se jacten de las páginas que han escrito;| a mí me enorgullecen las que he leído".
E questiona o investigador: "Que leu Pessoa? Com que propósitos? Estas são só algumas das perguntas que agora se podem começar a formular com mais assiduidade."
A biblioteca do autor do "Livro do Desassossego" está classificada por categorias temáticas e em destaque, acrescenta Inês Pedrosa, estão páginas que incluem manuscritos dom próprio Pessoa - ensaios e poemas escritos nas páginas de guarda dos livros.
Pode fazer-se pesquisa por autor, por ano ou por ordem alfabética ou por temas (psicologia, generalidades, religião, teologia, etc) e foram adicionadas interpretações sobre as suas motivações para a aquisição de determinadas obras. As secções incluem Anotações, Assinaturas, Dedicatórias, Selos (que ainda exibem as identificações das lojas em que os livros foram comercializados), Estudos, Bibliografia. E foi com o apoio da Fundação Vodafone Portugal que foi possível colocar online a totalidade das páginas de cada volume e disponibilizá-las  para consulta página a página ou fazendo o download da obra completa (em versão PDF ou JPG). Nunca os livros de Pessoa estiveram tão à nossa mão.

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